sexta-feira, 6 de junho de 2014

Reticências...

Meu amor, ela escreveu, acho que não gosto de você, gosto do que a gente tem. Colocou um ponto final, e depois outro e outro. Reticências.
Assim se encerrava o e-mail, que prefiro chamar de carta, pois trás um charme que e-mails não tem.
Ela não queria contato visual, e preferiu a distância da pena, cujo mata borrão não escondeu a tensão de suas palavras.
Meu amor, ela iniciou, será mesmo que te amo ou que estaremos assim, desgastados e perdidos, ainda que sucumbidos nesse desejo sedento que nos toca e desfalece?
Que haveria de oculto sob tamanha erudição?
Que olhos teria ela quando me visse com um buque de rosas vermelhas prestes a serem entregues? Que diria ela sobre meu amor sereno que parece não tocá-la, sobre a voz tranquila que parece apenas atingí-la quando nossos corpos se encontram?

De repente acordo. Somos eu e ela, um de fronte para o outro, no café, sob a luz florescente e econômica de padaria. Ela completa em voz serena. Meu amor, acho que não amo você, amo o que a gente tem. E pontuou correto e firme,  uma única vez. Era ponto final, era borrão, vadia...

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