terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O amor é outra coisa



























"A vida é uma DST." Li essa frase no twitter de uma amiga certo dia, que a viu estampada na camiseta de um conhecido. Achei brilhante. Lembrei finalmente de onde a conhecia: "Natimorto", do Lourenço Mutarelli.

Perdida em uma dessas noites de insônia, na ânsia inútil de procurar um pé para entrelaçar os meus enquanto durmo, pensei: "Será também o amor uma DST?". E respondi minha própria dúvida com a confirmação. O amor é sim uma DST. Parto do princípio de que só começamos a amar de verdade uma pessoa a partir do momento que nos relacionamos sexualmente com ela.

O sexo gera o amor, não o contrário, como nos foi afirmado por séculos. Estejam à vontade para discordar e/ ou discorrer sobre, mas mantenho minha linha de raciocínio. O amor aqui tratado é aquele que difere aos laços familiares e de amizade, que fique claro. Amor de mãe, pai, avós, irmãos, tios etc é fundamentado em outros princípios que não competem à atração física mútua. Longe de mim (e bem longe por sinal) provocar polêmica com uma possível legitimação do incesto.

O amor rudimentar, aquele que une semelhantes da mesma espécie (não necessariamente de gêneros diferentes, pois faço questão de legitimar o amor homo afetivo) surge sim do ato da cópula. Embora muitos possam (e vão) argumentar que só se envolveram sexualmente em determinados relacionamentos porque amavam, refuto novamente e reafirmo que só amamos alguém após a troca de fluídos sexuais e ponto. Até lá, só achamos que é amor.

E não é difícil entender porque muitas pessoas pensam o contrário do que acabei de constatar. Além das crenças milenares, as áreas cerebrais e os hormônios que diferem o amor da paixão, fascínio, desejo, são similares. E isso não sou eu que estou afirmando, mas a ciência. Portanto, até que o sexo se consume, o que chamamos de amor é na verdade outra coisa. Afeição, similaridade, compatibilidade - chame do que quiser, menos de amor.

Porque é no sexo que conhecemos ao outro integralmente: o gosto, o cheiro, o tato, o som. Tudo isso completando e contemplando o nosso e o corpo alheio. O que não quer dizer que vamos amar cada um com o qual transamos. Fatores simples e novamente hormonais, curiosidade, vontade e muitas outras coisas vão nos motivar à cópula sem resultar na mística, porém química que é o amor.

Tudo isso é tão justificável que até as estatíscas apontam: por mais afinidade que um casal tenha, casamentos acabam todos os dias porque os tempos de "bom sexo" se foram, e o amor junto com eles. E provam o contrário: amantes que vivem às turras mas se aguentam, pois afirmam que "entre quatro paredes eles se resolvem".

Por todo o citado afirmo que amor, só depois do sexo e que é sim uma DST (para a qual espero que não achem a cura). Sexo sozinho é egoísta, é filho único mimado ou caçula que quer as coisas no seu tempo e do seu jeito. Que só usa, sem querer ou achar que também é usado. Aquele que faz "chantagem pós-coito", almejando dormir de conchinha mesmo em um calor cuiabano. Ou aquele que só deseja que o seu "item sexual" suma o quanto antes, ou se transforme numa pizza.

O amor (legítimo, pós ou até durante o sexo) não exige nada disso. Ele se rende ao prazer do outro corpo como fonte de seu próprio prazer. Sabe o que pode, o que quer e mais ainda: aonde quer. Não exige abraço ou conchinha quando acaba, mas também não repele. Entende quem cala, entende quem fala, entende quem dorme. E sorri exausto, mas feliz e seguro de que esses momentos bons tem uma fonte inesgotável, apesar de tudo que digam.

Tal como o apêndice é um órgão de fácil inflamação e remoção, o sexo (e o amor, por consequência) é o oposto - é um órgão que nos falta e buscamos incessantemente em outros corpos. Alguns transplantes ocorrem bem, outros resultam em rejeição. Mas sempre haverá gente na fila de espera esperando pelo órgão compatível.



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Texto publicado originalmente em Villon Submarine, em 14/03/2012.

2 comentários:

  1. Bom, eu não ia comentar essa postagem, mas achei melhor comentá-la. Por favor, não leve a mal as considerações, vou tentar deixá-las como críticas construtivas.

    Primeira coisa, não é porque temos uma idéia sobre algo que precisamos dizê-la. Um exemplo são os ateus de facebook que postam coisas que aparentemente só ofendem os outros, e diretamente não tem outra função. Essa postagem tem coisas semelhantes:

    (..) enquanto durmo, pensei: "Será também o amor uma DST?". E respondi minha própria dúvida com a confirmação. O amor é sim uma DST. Parto do princípio (...)

    Aqui, comete-se uma falha de argumentação: você conclui uma coisa sem dizer como chegou à conclusão, e começa o artigo partindo deste princípio

    O sexo gera o amor, não o contrário, como nos foi afirmado por séculos. Estejam à vontade para discordar e/ ou discorrer sobre, mas mantenho minha linha de raciocínio. (...) Embora muitos possam (e vão) argumentar que só se envolveram sexualmente (...) porque amavam, refuto novamente e reafirmo que só amamos alguém após a troca de fluídos sexuais e ponto.

    Aqui a argumentação fica pior: você determina como verdade absoluta seu pensamento. E não apresenta argumentos, apenas uma "posição sua", que você "reafirma", e continua nessa linha. O ponto é, esse artigo apresenta imaturidade na argumentação-e com isso, apresenta imaturidade na sua pessoa.

    Mas calma, eu não estou dizendo que você seja imatura. Porém, essa é a imagem que o artigo apresenta-ele traz uma argumentação tipo da criança que diz "você é bobo! / Por que eu sou bobo? / Porque você é!", que eu acho que não é aonde você quer chegar, e nem uma imagem que você quer passar.

    O fato é, o artigo ele terá aprovação de quem concorda, e quem não concorda provavelmente nem vai comentar-não há abertura para argumentação ou discussão saudável, porque: "Estejam à vontade para discordar, manterei minha linha". Ou, você pode encontrar pessoas como eu, que leram o artigo, discordaram, viram a posição imutável da autora, e simplesmente vão fechar o blog e não entrar mais nele-o que, novamente, acho que não é o que você quer.

    Enfim, era essa a idéia :-). Espero que você tenha entendido meus pontos e não me leve à mal ou leve qualquer coisa aqui como ofensa-não foi a intenção.

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  2. Olá Maurício, obrigada pelo seu comentário. Sua opinião é válida e bem-vinda.

    Vamos lá: meu artigo é, na verdade, uma prosa quase poética, sem nenhuma intenção de convencer, comprovar ou corroborar com ideia alguma. Ao contrário. É só um texto permissivo graças à licença poética.

    Obviamente pessoas irão concordar e discordar. Haverão os que comentarão que discordam, como você, os que não comentam e os que concordam. E até ai, tudo é válido, afinal, somos um país livre.

    Eu só discordo quando questiona a questão do imaturidade. Acho que nesse ponto, as pessoas gostam muito de se levar muito à sério. E quando o fazem, acabam levando os outros muito à sério também. O meu texto não tem nenhum fundamento científico, são um apanhado de anseios, pensamentos e experiências que eu simplesmente organizei e compartilhei. E só.

    Não é uma verdade absoluta (e nem quero que seja), não pretendo apresentá-lo em um Simpósio e aceito contra-pontos bem-fundamentados. Mudarei minha opinião? Talvez sim, talvez não.

    O grande lance é a despretensão em saber que a verdade é a bola e que eu não sou a dona da bola. Espero ter esclarecido e agradeço mais uma vez seu comentário, foi bem pertinente.

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